terça-feira, 16 de junho de 2009

A viagem do Márcio à Europa I

Prometido e cumprido, vamos aos textos do Márcio. Ele fez uma viagem recente à Europa e deliciou seus amigos com as suas impressões. De onde ele estava, mandava emails com textos e fotos contando suas peripécias. Vou publicar, neste blog, aquilo que ele escreveu...

Uma espiada na Europa – parte 1

@ Márcio Metzker

Para qualquer brasileiro com algum verniz intelectual, visitar a Europa é algo tão obrigatório quanto para um árabe ir a Meca. Muitos têm essa chance ainda na juventude, na universidade, depois de estudar feito loucos para ganhar uma bolsa. Para mim, essa oportunidade chegou já na maturidade, quando a gente não está mais disposto a passar privações e dormir ao relento, como muitos que põem a mochila nas costas para a aventura européia.

Consultando amigos experientes, preparei para o último mês de abril um roteiro intenso, com a ambição de atravessar de carro sete países em menos de um mês, e com a pretensão de conhecer o que há por trás do biombo turístico. Nada me constrange mais do que ser conduzido como gado por guias turísticos tagarelas em roteiros óbvios pelas obviedades do mundo. E na Europa são muitas.

Alguém realmente precisa ir ao Louvre, ao Coliseu, à Torre Eiffel, às termas de Diocleciano, à Torre de Belém ou aos canais de Veneza, se já os conhecemos tanto de filmes e catálogos minuciosos? Por que pagar entradas caras, enfrentar filas enormes e fazer as mesmas fotos que milhões de turistas numa babel de línguas fazem todos os dias, se o que interessa mesmo é a vida real das cidades, o temperamento dos habitantes, as desavenças urbanas, o sabor próprio de cada cidade ou país? Confesso que fico ruborizado de pisar o mesmo chão e debruçar nos mesmos mirantes de milhões de turistas antes de mim. É ridículo ver dezenas de pessoas com as mãos estendidas, fingindo que estão amparando a torre de Pisa, enquanto seus colegas se agacham e fotografam com o celular.

Para planejar a viagem dentro das finanças possíveis, com esse câmbio desvantajoso de três reais por euro, pude contar com a hospitalidade de amigos em Portugal, Itália e França. Minha namorada Fran quis acompanhar-me, pediu férias e dilapidou parte de suas suadas economias para pagar a parte dela. Apesar de ter apenas 28 anos, ela prefere a comodidade dos hotéis que o sleeping-bag dos albergues de juventude. Por sua causa, fui pagar mico em diversos lugares onde jamais iria se estivesse sozinho.

Celulares inúteis
O que trouxemos desta viagem, além de quase duas mil fotos e uma impressão indelével de deslumbramento, foram constatações inesperadas sobre a vida atual na Europa a derrubada de alguns mitos. Dentre as constatações, causa espanto a dificuldade que se tem para arranjar um telefone público. Pensava que em qualquer esquina houvesse uma cabine, mas por vezes tive que percorrer quilômetros. Nossos celulares nem piavam lá. Só serviram como despertador.

O aprendizado para telefonar é penoso e exige várias tentativas para se entender com a máquina e as gravações. Em Roma, as cabines não aceitam moedas de 2 euros, nem as de baixo valor, e comem vorazmente o crédito enquanto falamos apressadamente com o Brasil. Na Suíça, só aceitam francos suíços. Na Alemanha e Holanda, funcionam com moedas de 2 euros também.

Em Paris, os telefones funcionam apenas com cartões telefônicos. Custamos a descobrir que na França se vende um tipo de cartão específico para ligar para a América Latina, bem mais barato. Você fala uma hora com 7,5 euros. É dificílimo aprender a usar. Precisa ligar para um 0805, depois digitar a senha do cartão e depois o número com os códigos internacionais. Não precisa enfiar o cartão na leitora. Esperta foi minha amiga Cândida que comprou um celular por 19 euros e pôs créditos para ligar de qualquer lugar e receber ligações.

Parisiense faz questão de ter carro

Criticaram-me muito por meu plano de alugar um carro em Roma e devolvê-lo em Paris, argumentando com a excelente qualidade do transporte público na Europa. Realmente há aviões, trens e ônibus com freqüência para toda parte, mas é óbvio que há esperas de horas e o sacrifício de arrastar bagagem pesada pelas estações e aeroportos.

Claro que não cometemos a burrice de querer conhecer de carro Roma e Paris. Pegamos o carro em Fiumicino na saída de Roma e devolvemos no Aeroporto Charles de Gaulle, na entrada de Paris. Para nos locomovermos, compramos em Lisboa um aparelho GPS que falava lusitano. O carro foi um Ford Focus Hatch que fazia 20 km por litro de diesel. Gastamos apenas 200 euros de combustível para rodar 3.400 km. Nos hotéis, tirávamos apenas a bagagem leve e deixávamos uma grande mala com presentes, souvenires e roupa suja. Passamos algumas atribulações para estacionar o carro em Zurick e Bruxelas.

O trânsito em Roma é caótico, mas surpreendentemente os carros param antes das faixas quando o pedestre faz menção de atravessar. Isso é regra de ouro em toda a Europa. Nas outras cidades, o perigo são as bicicletas que vêm a toda velocidade, especialmente em Heidelberg e Amsterdam, espremendo o pedestre no canto da calçada. O trânsito em Paris também é uma loucura, não há estacionamento nas ruas estreitas. Mesmo com um magnífico sistema de metrô de 14 linhas interligadas, ônibus e um trem que chamam RER, os parisienses teimam em possuir automóvel.

Nenhum comentário:

Postar um comentário